Fábrica de R$ 250 milhões receberá tecnologia chinesa.
A cidade de Linhares/ES se prepara para receber sua segunda fábrica de veículos de origem chinesa. Na terça-feira, 24, foi assinado no Palácio Anchieta, sede do governo capixaba na capital Vitória, contrato de transferência de tecnologia da Harbin Hafei Automobile para a CN Auto, que já é importadora dos utilitários Hafei Towner desde 2008 e agora irá investir R$ 250 milhões para construir uma unidade de produção no Brasil. Os chineses não colocam dinheiro vivo na operação, só transferem tecnologia, a empresa brasileira é controladora de 100% do empreendimento.
Na primeira fase, a planta começa a produzir picapes de cabine dupla e estendida em janeiro de 2014, com 500 empregados e capacidade de 12 mil unidades/ano em um turno. Em 2015 entra em produção a caminhonete Towner cabine dupla e o potencial sobe para 25 mil/ano. Em 2016 serão incorporadas à linha vans pequenas para carga e passageiros e, com dois turnos, o ritmo poderá chegar a 47 mil/ano com cerca de 1,2 mil funcionários. “No início vamos importar motor, transmissão e partes estampadas, mas o objetivo é nacionalizar tudo gradativamente”, informou Ricardo Strunz, presidente da CN Auto. Ele afirma que já está em negociações com fornecedores locais de pneus, rodas, vidros, sistemas elétricos, bancos e revestimentos. “Para planejar o avanço dos índices de nacionalização vamos esperar pela regulamentação do Regime Automotivo.”
“O que era um plano estratégico se tornou mandatório após a espada do aumento de IPI para veículos importados”, disse durante a cerimônia Érico Sodré Quirino Ferreira, sócio-controlador da CN Auto, empresário do setor financeiro que também é dono da Omni, especializada em refinanciamento de veículos usados, e presidente da Acrefi, a associação das empresas de crédito. Após o aumento do imposto e da cotação do dólar, os preços foram reajustados em cerca de 20% e as vendas no atacado caíram 12% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de 2011.
Em março, a Brasil Montadora de Veículos (Bramo), do grupo Districar, assinou protocolo de intenção de instalar uma unidade de montagem das marcas chinesas Haima e Changan (além da coreana SsangYong) no mesmo município, a
Plano antigo
“Nossa decisão de fazer a fábrica não é nova. Já tínhamos identificado um viés protecionista no governo e dávamos como certo que o futuro de qualquer importadora seria o de fazer seus produtos aqui”, afirma Strunz, que já passou por quatro montadoras e tornou-se presidente da CN Auto em 2010. “Em maio de 2010 começamos o processo de estruturação da empresa e decidimos pela construção da fábrica”, diz, informando ainda que 12 Estados foram visitados antes da escolha do Espírito Santo, que ocorreu em outubro de 2011. Segundo ele, pesou na decisão a boa receptividade do governo estadual, a localização estratégica entre o Sul e o Norte do País e o fato de a empresa já ter sede em Cariacica, onde é feita toda a nacionalização e preparação dos veículos importados pelo porto da vizinha Vitória, com a inclusão e adaptação de itens para atender à legislação brasileira, como a colocação de extintores e kits de GNV, por exemplo.
O governo estadual também garantiu incentivos generosos. Segundo o governador Renato Casagrande o diferimento de ICMS poderá chegar a 90% do tributo por 12 anos, com possível renovação. “Mas ainda estamos negociando uma lei específica para empresas do setor automotivo”, disse Casagrande, lembrando ainda que a região norte do Estado, exatamente de Linhares para cima, também conta com os benefícios da Sudene, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, que oferece financiamentos com taxas baixas. “Estamos no Sudeste com benefícios do Nordeste”, lembrou o prefeito de Linhares, Guerino Luiz Zanon. Além dos incentivos, ele também destaca que a cidade está se tornando rapidamente um polo industrial do Espírito Santo, com boa infraestrutura logística e disponibilidade de mão de obra qualificada, com um Senai instalado no município.
No terreno de 1 milhão de metros quadrados, a CN Auto terá espaço suficiente para fazer futuras expansões. “Já pensamos a estrutura de maneira flexível, modular, para crescer conforme a necessidade”, diz Strunz. O acordo com a Hafei prevê que a empresa não poderá produzir modelos concorrentes da linha Towner, o que não impede de se fazer outras associações. A CN Auto também importa vans da Jimbei e estava se preparando para importar carros Brilliance, do mesmo grupo na China. “Chegamos a homologar três modelos, mas aí veio o aumento do IPI e paramos com tudo. No futuro nada impede de estudar o projeto de fazer outros produtos na nossa fábrica”, informa.
Brasil estratégico para a Hafei
A Hafei tem atualmente dois importadores no Brasil. Além da CN Auto, o Grupo Effa também vende os utilitários com sua própria marca e já montou algumas picapes em uma unidade mantida em Manaus (AM). Em abril deste ano, a Effa informou que negociava com a Hafei o licenciamento para fabricação de seus modelos. Segundo Liu Zhengjun, presidente da montadora chinesa, “estamos negociando cotas e se a CN Auto alcançar o número ganhará o direito de fabricar e vender os utilitários Hafei com exclusividade”.
O Brasil ganhou importância crescente para a Hafei. O País já é o maior cliente externo da montadora, que exporta para mais de 40 mercados e também tem acordos de fabricação por licenciamento no Vietnam, Irã e Malásia. Em 2011, os dois importadores brasileiros (CN Auto e Effa) consumiram 20 mil unidades, ou 10% da produção de 200 mil veículos da Hafei no ano passado, e metade das exportações de 40 mil. A capacidade da fábrica chinesa em Harbin é de 400 mil unidades/ano e a empresa emprega 4 mil funcionários.
“É um grande mercado para nós. Já vendemos para os brasileiros mais de 100 mil veículos desde que começamos a exportar para o País, em
Zhengjun também avalia que a parceria com o sócio brasileiro trará mais qualidade aos produtos da Hafei. “Este acordo abre uma nova página de nossa relação com a CN Auto. Esperamos uma qualidade altíssima com a cooperação que passamos a ter”, disse o executivo chinês.
Fonte: Automotive Business