Além de expor os problemas estruturais, preferência brasileira pelo transporte rodoviário impulsiona um tipo de crime capaz de elevar ainda mais os custos do modal.
Além de expor os problemas estruturais do País, a preferência brasileira pelo transporte rodoviário também impulsiona um tipo de crime capaz de elevar ainda mais os custos do modal: o roubo e o furto de cargas. Segundo estatísticas da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), foram registradas 12.850 ocorrências em 2010 no território nacional – uma média de mais de 35 por dia – causando um prejuízo de R$ 880 milhões aos transportadores.
O mesmo levantamento revela ainda que a Região Sudeste concentra a grande maioria dos casos: 79,94%. Logo em seguida aparecem as regiões Sul (8,63%), Nordeste (7,21%), Centro-Oeste (2,19%) e Norte (2,03%). O estudo da entidade combina a coleta de dados formais e informais sobre roubos e furtos em áreas urbanas e rodovias, buscando contornar a escassez de estatísticas oficiais específicas sobre o tema e a falta de uma metodologia padrão nos Estados para o registro dessas ocorrências.
Os locais mais visados
Duas rodovias cortam o País de norte a sul e acabam sendo as principais vias de circulação de cargas no Brasil: BR-101 e BR-116. Ambas atravessam regiões metropolitanas de diversos Estados, locais onde se concentram grande parte dos crimes. “Pela ordem, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife e Fortaleza, são as regiões metropolitanas que nos causam maior preocupação. São nessas regiões e nas rodovias de maior expressão no País, como a BR-116 e BR-101, os grandes focos de roubo de carga no Brasil”, explica Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da NTC&Logística.
São Paulo
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), as estradas paulistas tiveram 6.958 ocorrências e R$ 295,855 milhões subtraídos em 2011. Destas, 71,08% foram na Capital e na grande São Paulo, o que comprova a maior incidência nas áreas das grandes cidades, locais onde as cargas podem ser mais facilmente distribuídas pelos contraventores. A BR-116, também chamada de Presidente Dutra (entre São Paulo e Rio de Janeiro) e de Régis Bittencourt (entre São Paulo e Curitiba), é berço de 25,25% dos casos em rodovias.
Rio de Janeiro
As incidências aumentaram especialmente nos últimos meses, segundo o coronel Venâncio Alves de Moura, assessor de segurança do Sindicato dos Transportadores de Carga do Rio de Janeiro (Sindicarga). “De setembro de 2011 até abril deste ano, o roubo de cargas no Estado quase dobrou. Passamos de 200 casos ao mês para uma média de mais de 300” , conta. Ele afirma que os crimes têm se diversificado. “A mancha criminal atualmente mudou e caminha para regiões onde antes tínhamos poucos casos, como Niterói, centro do Rio de Janeiro e até mesmo bairros da zona norte como Bangu, Santa Cruz e Campo Grande”, diz.
De acordo com Moura, os pontos com mais ocorrências são o bairro de São Gonçalo, na capital; a rodovia Rio-Teresópolis (BR-040), na entrada próxima a Magé; a rodovia Presidente Dutra (BR-116), próximo à Serra das Araras; e a região do Morro da Pedreira, que compreende o bairro de Costa Barros, na baixada fluminense, por onde passa a Avenida Brasil (BR-101).
Região Sul
O superintendente do Sindicato dos Transportadores de Cargas do Paraná, Luiz Carlos Podzwato, confirma as indicações de que as áreas metropolitanas são mais conflagradas pelo roubo de cargas. “Os locais com maior incidência são Curitiba, Região Metropolitana e as estradas que chegam e saem da Capital. Quem tem que fazer algo é o poder público, através das delegacias especializadas”, afirma.
O assessor de segurança do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Rio Grande do Sul, coronel João Carlos Trindade, concorda que as trocas de informações são fundamentais. “São feitas reuniões com a Polícia Civil, Brigada Militar e Polícia Rodoviária Federal, em que as ocorrências são passadas a eles. Essa comunicação está funcionando rapidamente, com base no serviço de inteligência. De novembro de 2011 para cá diminuiu bastante. Temos poucas ocorrências, algumas pessoas foram presas e esses índices caíram”, explica. De acordo com Trindade, houve um pico de maiores ocorrências na rodovia Tabaí-Canoas (BR-386), principalmente na região dos municípios de Montenegro e de Triunfo.
Minas, Bahia e Ceará
Trindade ressalta alguns locais da BR-116 que preocupam em outras regiões do país, como o trecho entre Governador Valadares e Muriaé, em Minas Gerais; entre Poções e Santo Estevão, na Bahia; entre Itapagé e Brejo Santo, no Ceará; e entre Itapecerica da Serra e Barro do Turvo, em São Paulo. Já o gerente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Ceará, Espedito Róseo Silva Júnior, conta que as regiões mais problemáticas são mesmo na BR-116, em cidades próximas a Fortaleza, como Horizonte e Pacajus. A área de Jaguaribe, que fica a aproximadamente 300 km de Fortaleza também responde por boa parte das ocorrências.
Eletrônicos e cigarros entre os principais alvos
Os produtos mais visados, segundo a pesquisa da NTC&Logística, são os com alto valor agregado, como eletroeletrônicos e componentes de informática. Também estão no topo da lista os cigarros, alimentos e produtos farmacêuticos, que podem até acabar voltando ao mercado formal. A cadeia toda acaba pagando o preço: seguradoras têm seus custos elevados e cobram mais das transportadoras, que, por sua vez, repassam aos seus clientes, formando uma bola de neve que resulta em preços maiores para o consumidor final.
Como diminuir os riscos:
Fundamental para redução do roubo de cargas, a prevenção depende da colaboração das forças policiais e das empresas de transporte, na avaliação de Paulo de Souza. “O policiamento presente de maneira ostensiva nas rodovias inibe a ação de marginais. A outra parte é nossa, das empresas de transporte. Sabendo que atuamos em uma área de risco, temos que tomar medidas para proteção”, diz.
Ele elenca alguns dos principais cuidados que as empresas de transporte e caminhoneiros devem ter:
- É importante preocupar-se com a proteção da carga em movimento, com tecnologia no veículo e sistemas de rastreamento.
- Se possível, não andar à noite.
- Não dar carona.
- As empresas devem ter atenção aos depósitos de cargas, que, por concentrar os produtos, se tornam muito visados. As unidades devem investir em tecnologia, guardas, e câmeras de segurança.
- Uso de controle de documentação. Com o vazamento via internet de dados de um transporte, alguém pode captar e saber que uma carga vai circular em determinado local e um determinado horário.
Fonte: Cartola/Terra