quinta-feira, 30 de agosto de 2012

R$ 70 BI PARA SUPERAR GARGALOS DE TRANSPORTES DA REGIÃO SUL

Estudo Sul Competitivo, liderado pela CNI e pelas federações dos três estados, aponta que, desse volume, R$ 15,2 bilhões são prioritários para destravar os nós da área de transportes.

Responsável por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a região Sul do país possui gargalos em infraestrutura que podem, dentro de alguns anos, travar o escoamento da produção para o mercado interno e para exportação. Levantamento inédito demandado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelas federações das indústrias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (FIEP, FIESC e FIERGS) mostra que são necessários R$ 70 bilhões para investir em 177 projetos que podem destravar os nós logísticos e aumentar a competitividade dos três estados.

O projeto Sul Competitivo inclui a integração internacional com países limítrofes e foi lançado nesta terça-feira (28) em Brasília.

Para acelerar a recuperação da infraestrutura de logística, no entanto, a proposta é que 51 destes 177 projetos sejam priorizados por gerarem maior competitividade para a região. A sugestão é que seja criada uma força tarefa entre governos, iniciativa privada e terceiro setor para garantir que esses projetos, previstos em oito eixos prioritários, sejam viabilizados no curto e médio prazo.

Juntos, demandariam R$ 15,2 bilhões em investimentos. “O aumento da participação da iniciativa privada na economia é essencial para ajudar a região Sul a superar as deficiências em sua infraestrutura. Precisamos desses investimentos nos três estados, pois, certamente, vão dar mais competitividade a uma região tão importante para a economia brasileira”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Apesar dos oitos eixos demandarem um investimento de apenas 22% do total, a recuperação deles evitaria gastos anuais de R$ 3,4 bilhões, o que equivale a 80% das perdas totais em função do déficit de infraestrutura de transportes verificados atualmente nos três estados. A estimativa é que as perdas logísticas nos 177 projetos equivalem a R$ 4,3 bilhões por ano.

O estudo detalha os pontos em que a utilização está superior à capacidade e apresenta as áreas que devem ser priorizadas nos investimentos feitos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e dutoviários. O estudo também permite delinear qual a melhor forma de financiamento em cada caso: através do poder público, pela iniciativa privada ou a partir de Parceria Público-Privada (PPP).

Uso acima da capacidade

Na região Sul, a quantidade transportada em, pelo menos, 15 rodovias do estado excede em mais de 100% a capacidade das pistas. Em uma delas, a BR 116, que liga Curitiba a São Paulo, o excedente passa de 300% e, se nada for feito nos próximos anos, em 2020, o volume que será transportado vai ultrapassar em quase 500% o limite previsto. Esse é apenas um exemplo das deficiências da região na área de infraestrutura.

Por utilizar mais do que a capacidade dos meios de transporte permite, o custo da região tende a subir consideravelmente. A estimativa é que se os investimentos não forem feitos, o custo logístico de transportes da região Sul, que em 2010 foi de R$ 30,6 bilhões, vai chegar a R$ 47,8 bilhões em 2020. 

Prioridades

Os 51 projetos considerados prioritários compõem oito eixos de integração de transportes. Cinco são eixos rodoviários já existentes. Os outros três são novos eixos que devem ser desenvolvidos, sendo dois ferroviários e um rodoviário. Para chegar aos oito eixos, foram avaliadas as obras necessárias para a modernização, implementação e ampliação de cada eixo intermodal, os custos de cada uma, o prazo de retorno sobre o investimento, o impacto no meio ambiente, os benefícios sociais, a geração de tributos e de empregos, além do desenvolvimento regional em função de cada projeto e de cada eixo de integração.

“Todos os 177 projetos identificados são relevantes para a região Sul, mas a escassez dos recursos financeiros leva à necessidade de priorização de investimentos. Com a seleção dos 51 projetos contidos nos oito eixos prioritários do Sul Competitivo, com possibilidade de execução em curto/médio prazo, já é possível se alcançar mais de 80% da economia potencial consolidada, investindo-se um quinto do que seria necessário para o desenvolvimento de todos os projetos e com um retorno econômico de menos de cinco anos”, avalia Olivier Girard, diretor da Macrologística, consultoria contratada para fazer o diagnóstico.

Projeto sul competitivo

O projeto Sul Competitivo faz parte de uma série de estudos elaborados pela CNI e as federações dos estados para identificar os gargalos em cada uma das cinco regiões brasileiras. O projeto Norte Competitivo foi o primeiro a ser divulgado. Nos próximos meses o foco serão as outras regiões – Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

O projeto, que tem o apoio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), foi feito pela consultoria Macrologística, que traçou o perfil, a movimentação e a condição de cada modal de transporte de cargas dos três estados da região. Também foram avaliadas as condições da infraestrutura de transporte da Argentina, do Chile, do Uruguai e do Paraguai, para compreensão de como funciona a logística de escoamento dos três estados para os países vizinhos e para o mapeamento das oportunidades potenciais de maior movimentação de cargas. Foram estudadas ainda a realidade socioambiental e a geografia da região e elaborado o perfil das principais cadeias produtivas que utilizam a infraestrutura logística existente.

Foram feitas 180 entrevistas nos cinco países com representantes de associações produtivas, de empresas e de autarquias. O Sul Competitivo detalhou as cadeias produtivas nos segmentos agrícola, extrativista e industrial, que incluem 61 diferentes produtos e compõe 86% de tudo o que é produzido, consumido, importado e/ou exportado na região.

Com a análise das principais cadeias produtivas da região, incluindo a projeção de seu crescimento e seus respectivos fluxos de escoamento, foi possível identificar os principais problemas enfrentados para a movimentação de carga, bem como os gargalos futuros que virão com o aumento da produção até 2020, caso não haja investimentos na infraestrutura logística.

O Projeto Sul Competitivo passa agora para a fase de implantação, com a criação de uma força-tarefa formada por um grupo multidisciplinar, que elaborará e implementará um plano de ação conjunto, em estreita sintonia com os programas lançados e projetados pelo governo da presidente Dilma Rousseff para ferrovias, rodovias, portos e aeroportos. O objetivo é implantar os projetos, com cronograma e responsabilidades bem definidas, possibilitando a mobilização dos atores envolvidos – ministérios, governos, bancadas e organismos estaduais e federais, universidades, organizações não-governamentais e iniciativa privada.

Lista de Eixos de Integração de Transporte Prioritários para investimento:

Eixos já existentes

- Eixo de Integração Atual da Rodovia SP – Porto Alegre via BR-116
- Eixo de Integração Atual Rodoviário SP – Caxias do Sul via BR 101
- Eixo de Integração Atual Rodoviário Passo Fundo – Imbituba via BR 285
- Eixo de Integração Atual Rodoviário São Miguel do Oeste – São Francisco do Sul via BR 280/282
- Eixo de Integração Internacional Atual Rodoviário São Paulo – Buenos Aires via São Borja, BR 285 e BR 153
-Cinco são eixos rodoviários já existentes. Os outros três são novos eixos que devem ser construídos, sendo dois ferroviários e um rodoviário.

Novos eixos

- Novo Eixo de Integração da Ferrovia Norte-Sul – Trecho Sul
- Novo Eixo de Integração Ferroviário Guairá – São Francisco do Sul – Paranaguá via Anel ferroviário no litoral e serra
- Novo Eixo de Integração Rodoviário da Boiadeira Porto Camargo – Paranaguá via Campo Mourão e BR 487

Fonte: CNI