terça-feira, 19 de junho de 2012

VENDA DE CAMINHÕES DÁ SINAIS DE RETOMADA APÓS MEDIDAS DO GOVERNO

Após quedas nas vendas internas de 12,5% nos cinco primeiros meses de 2012 e de 28,1% em maio deste ano, ante iguais períodos de 2011, o mercado de caminhões dá sinais de recuperação. As consultas nas redes de concessionárias cresceram 20% no início de junho, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), enquanto os bancos das montadoras relataram um aumento nas intenções de negócios superiores ao mês passado, o pior em vendas desde fevereiro de 2010.

A recuperação do segmento de caminhões começa a refletir as recentes ações de incentivo do governo, principalmente a queda da taxa do Finame PSI. Esse programa de financiamento com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para aquisição de caminhões, máquinas e implementos - do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) tinha taxa de 10% ao ano, caiu para 7,7% em abril e 5,5% em maio. Outra ação foi a ampliação de 96 para 120 meses o prazo máximo de financiamento da linha Procaminhoneiro, destinada aos autônomos, que já tinha 5,5% de juros ao ano.

"O Banco Mercedes, que financia as operações de caminhões da companhia, reconfirmou a afirmação do concessionário (de alta na procura), e já vemos propostas de vendas e consultas maiores no começo deste mês", disse Mário Lafitte, diretor de comunicação corporativa da Mercedes-Benz.

As medidas oficiais devem dar fôlego para o mercado pelo menos até 31 de agosto, prazo de vigência. "Esse é um custo real quase negativo, o que nunca foi visto no Brasil. Por isso, gente acredita em aumento das vendas em junho e julho. Até 31 de agosto, a coisa embala", disse, referindo-se ao Finame, Antonio Roberto Cortes, diretor executivo da MAN Latin America, que produz os caminhões Volkswagen.

Em janeiro deste ano, a linha de produção de caminhões havia sido interrompida para que as fábricas adequassem os novos modelos a uma nova exigência da legislação, que determina a adoção, na nova frota, do motor Euro 5, compatível com um combustível menos poluente, um diesel com menor teor de enxofre. Essa modernização, no entanto, teve um custo e os novos modelos saíram da fábrica até 15% mais caros. Isso levou a uma antecipação da produção nos últimos meses do ano passado, às vésperas da obrigação prevista na legislação entrar em vigor.

Em dezembro, por exemplo, houve um salto de 43,6% na produção de caminhões e ônibus, movimento que já tinha sido antecipado por uma alta expressiva em novembro, de 17,4%. Entretanto, o setor começou 2012 com uma queda de 65,5% em janeiro, seguida por perdas também em fevereiro (-34,6%), março (-14,3%) e abril (-23,7%), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Agora, a avaliação é que a curva de vendas siga para cima, ancorada no esperado crescimento da economia brasileira no segundo semestre - superior ao dos primeiros seis meses de 2012. "No segundo semestre, a atividade econômica deve se recuperar, e o ponto de inflexão da curva de baixa já chegou", disse Lafitte, da Mercedes-Benz.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, admite que o desempenho do segmento nos primeiros meses desse ano é fator de preocupação. Mas também aposta que as medidas de estímulo do governo ao setor automotivo vão levar a indústria de caminhões a uma retomada das vendas e da produção a partir de julho. "Dentro de 30 a 60 dias, vão aparecer os efeitos dessas medidas", disse, em entrevista na última semana.

Segundo a Fenabrave e as montadoras, a demanda por veículos novos tem a ajuda do uso de caminhões para o escoamento das safras de soja, milho e cana-de-açúcar, bem como das obras de infraestrutura. "Ainda existe muita safra a ser colhida e, no caso da infraestrutura, o Brasil precisa ainda ser "construído". Há demanda de caminhões para isso", afirmou Alarico Assumpção Júnior, presidente executivo da Fenabrave.

Nesse cenário ainda incerto, o aumento no custo dos caminhões com a mudança tecnológica para o padrão Euro 5 ainda não chegou aos consumidores, justamente pela fraca demanda nos meses passados. "No momento de baixa, como o vale no qual enfrentamos, a competição entre as montadoras e a rede de concessionários é grande. Houve um reposicionamento de preços, mas, na ponta, ao consumidor ainda não foi repassado tudo", disse Lafitte, da Mercedes-Benz, que alerta: "mas a tendência é repassar tudo quando o mercado reaquecer".

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul