Nova linha de montagem consumiu R$ 30 milhões e produzirá os
caminhões 9800i e DuraStar.
Sete meses após anunciar a transferência da produção de seus
caminhões da fábrica da Agrale, em Caxias do Sul, para Canoas, a International,
marca de veículos comerciais do grupo norte-americano Navistar,
ressurge com a inauguração de sua própria linha de montagem, no mesmo complexo
industrial onde está localizada a planta da MWM, divisão de motores do grupo.
Com investimento de R$ 30 milhões, a nova unidade, que abriu as portas na
terça-feira, 11, representa mais um capítulo da história da empresa no Brasil.
Para entender a estratégia da International no País, é necessário voltar no
tempo e destacar alguns pontos de sua história. Assim começou sua apresentação
o presidente da Navistar para a América do Sul, Waldey Sanches. Ele elencou e
resumiu os principais momentos da montadora, que chegou por aqui em 1942, com
caminhões importados KB 9 para dar apoio às obras de infraestrutura no Rio de
Janeiro. Desde então a International enfrentou - e por diversas vezes - períodos
que resultaram na paralisação dos negócios ou interrupção de seus planos no
País.
No fim da década de 1950, quando a empresa mantinha uma linha de montagem de
caminhões em Santo André
(SP), do modelo de dez toneladas N-184, se viu obrigada a interromper suas
operações devido à política nacional que fechou as fronteiras para as
importações. Somente em 1998, a International retorna ao Brasil em mais uma
tentativa de produção, dessa vez com o apoio da brasileira Agrale, que por 14
anos alugou uma de suas linhas de montagem para a parceira norte-americana.
Contudo, as vendas para o mercado interno esbarraram na crise cambial de 2002,
com a desvalorização do real: o resultado foi continuar produzindo, mas apenas
para exportação, solução que durou 10 anos, até novembro de 2012, quando a
Navistar anunciou que teria casa própria no Brasil.
Durante esse intervalo, a Navistar criou, em 2009, a NC2, uma joint venture
global com a também americana Caterpillar para fabricar caminhões em países
emergentes. Com essa nova estratégia, aproveitou-se o que já se tinha à mão no
Brasil – a linha de montagem em Caxias do Sul e o caminhão pesado 9800, que
recebeu atualização de 260 itens. O modelo voltou a ser vendido no País em 2010
como 9800i, além do semipesado DuraStar, ambos montados na Agrale.
Toda essa história foi relembrada por Sanches, durante a cerimônia de
inauguração da nova fábrica, que contou a presença de autoridades locais, como
o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, o prefeito de Canoas, Jairo Jorge,
além de concessionários, representantes de fornecedores e todos os 150
funcionários que trabalham na unidade. Ele assegura que esperou um cenário
claro e definido para anunciar as novas decisões da companhia e lembra que
durante todo o processo de retomada, o desempenho da divisão de motores foi
decisivo para traçar os planos da operação de caminhões no País.
“Para isso trabalhamos duro: foram dois anos de intensas negociações com a
matriz, bancos, sindicatos, fornecedores e parceiros, com a rede de distribuidores,
além, obviamente, das negociações internas”, disse durante a cerimônia.
Orgulhoso com a nova casa, Sanchez afirma que o investimento na unidade faz
parte do aporte de R$ 400 milhões que a Navistar vem empregando no País nos
últimos três anos. A maior parte – R$ 340 milhões – foi dedicada à operação de
motores, enquanto os demais R$ 60 milhões foram consumidos pelo projeto de
caminhões. Metade deste valor foi utilizada na nova linha de produção, para a
compra de parte de seus equipamentos, ferramentais, localização de componentes,
enquanto a outra metade foi investida em projetos de engenharia, como a
atualização do 9800, o desenvolvimento do câmbio automatizado Ultrashift, a
adaptação do modelo DuraStar e a mudança de Euro 3 para Euro 5.
Ainda de acordo com Sanchez, o uso de ativos existentes e a estrutura que a
própria Navistar já mantinha no Brasil contribuiu para a concretização do
projeto: “Uma planta como a de Canoas não ficaria por menos de R$ 200 milhões
se fosse construída do zero e esse uso de ativos e da grande contribuição da
estrutura já instalada da Navistar no País gerou uma extraordinária economia.
Por isso houve investimentos que simplesmente não precisaram ser feitos. Além
disso, a adoção de Canoas encurtou muito o tempo de estudos, seleção de local,
projeto e a própria construção”, enfatizou.
A nova fábrica da International nasce com capacidade para produzir 5 mil
caminhões por ano em três turnos. Serão montados ali os dois modelos que a
empresa oferece atualmente para o mercado brasileiro, o pesado 9800i nas
versões 6x2 e 6x4 com câmbio manual de 13 marchas ou automatizado Ultrashift de
18 marchas - e o semipesado DuraStar, nas configurações 4x2, 6x2 e 6x4, câmbio
manual.
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Modelos 9800i (esquerda) e DuraStar com pintura comemorativa de inauguração da fábrica. |
Por enquanto, a unidade inicia suas atividades com apenas um turno que emprega
150 pessoas, sendo 100 novos postos de trabalho e cinquenta que já trabalhavam
na linha de motores.
A própria trajetória e experiência em solo brasileiro deram à operação sólida
base industrial, o que resultou em imediato atendimento aos requisitos do
Finame e do Inovar-Auto, com o desenvolvimento e manutenção de parcerias com
fornecedores locais. Segundo o presidente da International Caminhões no Brasil,
Guilherme Ebeling, são 85 fornecedores diretos, entre Eaton (transmissão/caixa
de câmbio automatizada), Meritor (eixos), Maxion (rodas), Goodyear e Michelin
(pneus), Usiminas Automotiva (cabine do 9800i), Cummins (motor ISM de 410 cv
para o 9800i) e a própria MWM, cujo motor MaxxForce 7.2H de 274 cv equipa o
DuraStar.
“A parceria que mantemos com fornecedores garantiu índice de nacionalização
acima de 65% nos dois produtos, o que nos permite financiar todos os nossos
caminhões pelo Finame”, afirma Ebeling.
A linha ganhou novos processos, como testes de freios ABS e de dinamômetro em
100% da produção, além da implantação de melhorias. A manufatura dos dois
modelos se diferencia apenas pelas cabines, explica Ebeling: a do 9800i é
fabricada pela Usiminas Automotiva em Minas Gerais, enquanto a do DuraStar chega semi
montada da planta da International do México, o mesmo modelo de cabine
utilizado pelo mercado da América do Norte. As duas cabines recebem componentes
finais em Canoas:
“Apesar dessa diferença, nós cumprimos de 10 a 11 itens do processo de
manufatura exigidos pelo Inovar-Auto para montadoras de caminhão”, completa o
executivo que enfatiza a escolha da empresa por maquinário, na sua maioria, de
origem nacional.
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Cabines do 9800i chegam a Canoas pré-montadas pela Usiminas Automotiva: peças são adicionadas no decorrer da linha. |
MERCADO
Os planos da International no mercado brasileiro são escalonados, quando se
trata de volume de negócio. Atualmente, a produção em Canoas se dedica a um
lote piloto, de 20 unidades, o que deve cadenciar a linha com 2 unidades por
dia, informa o diretor industrial, Carlos Budahazi. “O ritmo vai subir conforme
a demanda. Nossa meta é atingir o ritmo normal de produção diária, entre 5 e 7
veículos no curto prazo. Deveremos alcançar as cinco unidades por dia em algo
como três meses”, diz o executivo.
As metas de vendas da marca preveem um índice de crescimento muito maior que a
previsão para o mercado total. Segundo as projeções apresentadas por Ebeling,
enquanto o mercado total de caminhões deverá crescer entre 7% e 8% em 2013
sobre o ano anterior, os negócios da International devem subir entre 35% e 38%
- de 521 unidades em 2012 para 700 caminhões este ano. O presidente da
International complementa que entre janeiro e maio deste ano as vendas já
cresceram 40% sobre igual período do ano passado.
“As perspectivas de mercado são positivas para este e para os próximos anos.
Haverá uma demanda muito forte para o modelo 9800i, responsável hoje por 70% da
produção. Sua versão com câmbio automatizado tem despertado muito o interesse
de clientes em potencial: tínhamos um lote de 50 unidades que foi totalmente
vendido. Essa versão vai alavancar nossas vendas”, comemora Ebeling.
Waldey Sanchez complementa: “Quando estivermos operando e ocupando a fábrica em
ritmo mais acelerado de produção, nossas operações começarão a ‘fazer sentido’
financeiramente. Hoje, sabemos que estamos com o ‘cinto apertado’, contendo
custos, mas nossa meta visa vendas de 3 mil a 4 mil unidades em 2015”.
Para apoiar o crescimento previsto, a International amplia sua rede de
distribuição, hoje formada por 13 concessionárias e 20 postos de serviços
autorizados. Até o fim deste ano, serão mais sete nomeações, totalizando 40
postos de atendimento.
“Queremos chegar em 2015 com 60 postos de atendimento no total, entre
concessionárias e serviços autorizados”, complementa Ebeling.
EXPORTAÇÕES
Entre os planos da montadora, a planta de Canoas também servirá como base de
exportação para outros mercados, especialmente os do Mercosul. No ano passado,
o volume de exportação representou 15% da produção, que ainda saía de dentro da
planta da Agrale, em Caxias de Sul: foram 50 unidades, todas Euro 3, das quais
45 foram para o Uruguai. Para este ano, o volume deve dobrar, mas a proporção
deve ser a mesma, entre 10% e 15% da produção, estima Ebeling.
“Até 2015, deveremos manter os 15% de participação das exportações na produção
ao mesmo tempo em que ampliaremos para mercados como Chile e Peru, além de
África do Sul, em parceria com a Navistar do México, que também exporta para
outros mercados fora do Mercosul. Para esses países, já enviaremos Euro 5,
apesar de alguns desses mercados ainda estarem em níveis de emissões Euro 4.”
FUTURO
A nova planta da International é a quarta linha produtiva do Grupo Navistar no
Mercosul: as demais são todas da MWM, sendo duas no Brasil - uma na capital
paulista e outra na própria Canoas - e uma terceira unidade em Córdoba, na
Argentina. Canoas está preparada para receber futuras ampliações, revela
Sanchez.
“Nosso objetivo é tornar o Brasil o celeiro de exportação dos caminhões
Navistar com tecnologia Euro para vários mercados mundiais”. Além disso, para
ele, o mercado interno oferece sólido cenário de desenvolvimento, baseado na
necessidade de transporte rodoviário do País, impulsionada pelo pré-sal,
agronegócio, eventos esportivos e as mais de 10 mil obras de infraestrutura
previstas para os próximos anos.
“80% das operações logísticas deste País são feitas por vias rodoviárias: por
certo, os brasileiros vão precisar de muitos caminhões para transportar toda
riqueza a ser produzida. Vencida a etapa fábrica, o próximo desafio diz
respeito à diversidade de produtos”, declara Sanchez.
Ele dá poucas pistas sobre o que vem por aí para complementar seu portfólio,
mas confirma a estratégia assinalada por ele mesmo há quase dois anos, na
Fenatran 2011, que possivelmente a International aproveitaria associações e
parcerias, como a que tem com JAC Motors, na China, para a ampliação de
portfólio.
“Cogitamos sim ainda a possibilidade de parceiros não só internacionais, mas
nacionais também. Ainda é cedo para falar qualquer coisa a respeito, não há
nenhuma definição, mas o que posso dizer é que o horizonte aponta para novidades
com relação a produtos em dois anos. Estamos trabalhando duramente neste
assunto e espero compartilhar em breve os próximos passos também nesta área”,
conclui.
Fonte: Automotive Business