Os funcionários da montadora Mercedes-Benz, com respaldo do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, sinalizaram ontem a possibilidade de
paralisação de algumas áreas da produção na unidade de São Bernardo caso a
companhia não apresente acordo que preserve o emprego dos 483 trabalhadores que
têm contrato por período determinado, que terminaria em 18 de novembro. Nesta
semana, os setores de montagem de ônibus e CKD pararam como protesto.
O posicionamento foi apresentado ontem, por dirigentes do
sindicato, durante assembleia na fábrica. Na ocasião, a entidade expôs aos
colaboradores a posição da Mercedes, que é de não renovar os contratos dos 483,
que estão em layoff - ou seja, afastados fazendo cursos e recebendo verbas do
FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e complemento pago pela montadora. A
entidade também disse que não aceitará a possibilidade de a companhia demitir
1.000 trabalhadores efetivos, também em layoff, em janeiro. A intenção da
Mercedes em não manter esses empregados contraria acordo que fez com o sindicato,
que prevê garantia de emprego.
Depois de receberem telegrama, na quarta-feira, em que a
montadora informou a dispensa, os 483 funcionários ficaram apreensivos com o
risco de ficarem sem salário e sem seguro-desemprego, que foi pago durante o
período de afastamento. O diretor de comunicação da entidade, Moisés Selerges Júnior,
falou para os empregados rasgarem o telegrama - que os convocava para a
rescisão, na segunda-feira.
Durante a assembleia, o diretor lembrou que, depois de queda
nas vendas de caminhões neste
ano, o mercado reagiu em outubro e isso é mais um motivo para não aceitar as
rescisões. "A Mercedes tinha 9.000 caminhões em estoque, agora vai girar
em 1.000, ou seja, dentro da normalidade. Se a empresa faz isso em momentos de
retomada, imagine o que não vai fazer em outros momentos." Trabalhadores
da área de caminhões ouvidos pela equipe do Diário durante o ato também
relataram que a produção na área está a todo vapor, com a fabricação de 80
unidades por dia, em um turno só. Antes, segundo eles, faziam 70 veículos de
carga em dois turnos.
Procurada, a Mercedes afirmou, em nota, que busca
administrar a forte retração nas vendas e suas consequências para a força de
trabalho. "Nesse cenário, a Mercedes-Benz e o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC continuam trabalhando no desenvolvimento de solução que visa garantir a
manutenção dos níveis de emprego". Quanto aos 483 temporários, a companhia
disse que eles foram contratatos por tempo determinado e que "esse
processo não pode ser considerado demissão".
O sindicato convocou os trabalhadores para nova assembleia,
na segunda-feira, no Centro de Formação Celso Daniel, ao lado da sua sede.
Serão apresentados o posicionamento da Mercedes sobre o caso, após negociações
iniciadas ontem e que estavam previstas para continuar hoje, e os próximos
passos da mobilização, caso não cheguem a um acordo.
Fonte: Diário ABC