A montadora Mercedes-Benz
informou, por meio de comunicado interno na fábrica de São Bernardo, que vai
diminuir o quadro em 500 funcionários. A empresa alemã, desta maneira, assume
postura que vai na contramão do último resultado de suas vendas de caminhões,
cuja alta foi de 32% em outubro sobre setembro, e dos acordos com o Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC.
Conforme o anúncio, a companhia não vai renovar o contrato
por período determinado desses trabalhadores. A relação trabalhista dos
temporários prevê que o contratante assine, de início, a data de entrada e a de
saída do empregado.
O texto informava sobre o fim da relação com os
trabalhadores temporários, neste mês, não citava possível efetivação e concluía
que os outros 1.000 contratados em layoff continuariam nesta situação até 31 de
janeiro. Na data, a montadora faria outra avaliação para decidir o futuro desses colaboradores. Como protesto,
os funcionários teriam parado a produção, por curto período, em dois setores da
fábrica.
O regime de layoff definido em junho, a fim de evitar
demissões, afastou profissionais com menos tempo de casa e pagou a eles
salários reduzidos. Os trabalhadores voltariam à produção no dia 17, mas, após
novo acordo com o sindicato em setembro, a empresa prorrogou o retorno deles em um mês e
o reajuste salarial foi congelado até fevereiro. Em troca, a Mercedes fixou a
garantia de emprego para todos os 13 mil funcionários da unidade de São
Bernardo até janeiro.
A equipe do Diário conversou com funcionários da empresa,
que revelaram o conteúdo do comunicado interno. A direção da Mercedes-Benz
estava reunida, até o fechamento desta edição, discutindo o assunto. Porém,
informou que segue analisando a situação e estudando as melhores alternativas
para o caso dos desligamentos, alegando que o cenário está sendo avaliado.
Sindicato
Procurado, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não passou
informações sobre o assunto. Mas, segundo os trabalhadores, em assembleia
ocorrida ontem, na frente da sede da entidade, os dirigentes do sindicato
deixaram claro que vão lutar para que os 500 temporários sejam efetivados.
Ontem, os colaboradores da fábrica foram informados pelo
sindicato sobre nova assembleia, no estacionamento da Mercedes, hoje, às 5h.
Segundo alguns deles, a entidade pretende apresentar, e colocar em votação, os
próximos passos para que não ocorram desligamentos.
Além de quebrar os acordos com o sindicato, a Mercedes pode
ir contra uma das determinações do governo federal. A redução do IPI (Imposto
sobre Produtos Industrializados) para os veículos foi concedida com a
contrapartida de que as montadoras mantivessem os empregos. Os caminhões
tiveram o imposto reduzido de 5%
para zero.
Questionado se o fim dos contratos por período determinado
configurava redução no emprego na Mercedes, o Ministério do Trabalho e Emprego
não se manifestou.
Até o fechamento desta edição, o Ministério da Fazenda e o
prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), também não apresentaram seus
posicionamentos sobre o anúncio de desligamento coletivo relatado pelos
trabalhadores da fábrica.
Incentivos do governo provocam reação nas vendas de caminhões
A crise econômica mundial abalou o setor de caminhões e as
montadoras viram as suas vendas diminuírem em relação aos meses anteriores. No
ano, o setor amarga queda de 21,8% nos licenciamentos até outubro, em relação
ao mesmo período de 2011. Mas o cenário está mudando, e em ritmo acelerado.
No mês passado, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores), a comercialização cresceu 50% frente a
setembro. Foram 12.301 unidades contra 8.200. Boa parte desse impulso ocorreu
pelo financiamento PSI-Finame, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), com juros de 2,5% ao ano. Sem contar a desoneração do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) ainda em vigor.
Gerente de vendas de uma concessionária da região, Luis
Gambim revela que o setor vai bem. Como os compradores conseguem carta de
financiamento para a liberação do dinheiro em 90 dias, sua revenda não consegue
mais entregar caminhões neste ano, pois estão todos reservados.
Fonte: Diário ABC