quarta-feira, 15 de julho de 2015

VENDA DE IMPLEMENTOS AFUNDA; ANFIR BUSCA PALIATIVOS

Emplacamento de carretas cai quase 50% no primeiro semestre de 2015.

Após apurar queda de 40,3% nas vendas de implementos rodoviários no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2014, com a soma de 45,9 mil unidades comercializadas entre veículos rebocados e carrocerias montadas sobre chassis, a associação dos fabricantes, a Anfir, estima que a atual retração deve se estender pelo resto do ano, que segundo calcula a entidade fecha com cerca de 90 mil produtos vendidos, o que representará forte declínio de 44% sobre os 12 meses anteriores. “O resultado reflete a situação de desaquecimento geral da economia e esperamos que sejam tomadas medidas para reanimar o mercado”, afirma Alcides Braga, presidente da Anfir. 

O resultado esperado para 2015 amplia significativamente a capacidade ociosa das 1.355 empresas fabricantes de implementos rodoviários no País, que segundo a Anfir têm potencial instalado para produzir mais de 200 mil unidades/ano e chegaram ao recorde de 190,8 mil em 2011. Com a retração, Braga calcula que o setor já demitiu mais de 20 mil pessoas, com redução de 30% na força de trabalho, que baixou de 71 mil empregos diretos para menos de 50 mil hoje.

Nesse cenário, o presidente da Anfir defende a implantação do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) lançado pelo governo federal na semana passada, que permitirá a redução de jornada de trabalho e salários por até um ano. O dirigente entende que o setor deve ser incluído entre as empresas beneficiadas pelo PPE. “Trata-se de uma medida que poderá contribuir para a preservação de empregos e qualidade na indústria”, avalia. 

MEDIDAS

Diante do tombo do mercado, Braga revela que a Anfir negocia em várias frentes medidas que possam amenizar a recessão. “Precisamos agir, estamos buscando qualquer alento”, diz. Um dos pedidos é “não deixar sair de pauta a adoção de um programa de renovação de frota, que poderia trazer vendas também para o setor de implementos”. No entanto, segundo o dirigente, o BNDES alega falta de caixa para implantar o programa. 

Com outro pleito, Braga conta que na próxima semana estará novamente na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, para mais uma vez pedir o aumento da parcela financiável da linha PSI, atualmente restrita a 70% do valor do bem para pequenas e médias empresas e 50% para as grandes. O pedido é para elevar o porcentual a 80%, com poucas esperanças de aprovação. 

Em outra modalidade de financiamento subsidiado, no próximo mês a Anfir deverá assinar convênio com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para a inclusão de implementos rodoviários na lista de bens financiáveis com juros de 2% ao ano pelo programa Mais Alimentos, destinado a pequenos agricultores com renda de até R$ 100 mil por ano. “É um mercado novo a ser aberto. Enviamos ao MDA uma lista de produtos que podem ser incluídos no programa.” 

Apesar de todos os pedidos de crédito subsidiado, Braga admite que as linhas oferecidas em anos recentes pelo BNDES com financiamento de 100% do bem com juros de apenas 3% a 4% ao ano causaram distorções no mercado de caminhões e implementos. “A coisa boa da situação atual é a volta das regras universais do mercado. Foi muito artificial e oportunista o crescimento de 2013, as condições eram tão atrativas que muitos frotistas compraram veículos novos mesmo sem conseguir vender os usados. Essa oportunidade foi corretamente aproveitada pelos empresários, mas tirou vendas dos anos seguintes. Agora chegou a hora de pagar a conta”, pondera. 

DESEMPENHO DOS SEGMENTOS

Em linha com a recessão do mercado de caminhões, que acumula declínio de 42% nas vendas do primeiro semestre de 2015, o desempenho isolado do segmento de implementos pesados foi ainda pior, registrando queda de 48,7%, com apenas 14,7 mil reboques e semirreboques emplacados no período. “É um retrocesso de 10 anos. Vamos emplacar este ano um dos menores volumes da história do setor, perto de 29 mil unidades, o mesmo de 2006”, aponta Braga. Das 15 linhas de veículos rebocados pesquisadas pela Anfir, 14 apresentaram retração e o tombo mais representativo foi o de graneleiros/carga seca, com recuo de quase 60%, pois é o produto mais vendido do setor, com 3,6 mil nos seis primeiros meses do ano. O único porcentual positivo (+14,7%) foi registrado no emplacamento de reboques para transporte de toras, com 731 unidades, mas a maioria foi negociada em apenas um grande contrato pontual por uma transportadora do Nordeste. 

No segmento leve a retração no primeiro semestre foi um pouco menor, de 35,4%, o que representa 31,2 mil carrocerias montadas sobre chassis de janeiro a junho de 2015. “Isso ocorre porque o segmento não é tão dependente (dos financiamentos com juros subsidiados) do BNDES, assim o recuo nesse caso está ligado somente à economia real”, avalia Braga. Ele aponta como exemplos as quedas de 41% e 64,5% nas vendas de betoneiras e basculantes, respectivamente: “Isso está diretamente ligado a paralisação de obras do PAC e recessão no setor de construção civil.”

As exportações também não ajudam. No primeiro semestre apenas 1,1 mil implementos foram embarcados para clientes de outros países, e apesar de baixo o volume representa queda de 31,9% em relação ao mesmo intervalo de 2014. “Nos últimos anos, com o aquecimento do mercado interno e perda de competitividade internacional de nossos produtos, acabamos abandonado esse foco, mas agora o cenário mudou e todas as empresas do setor estão convictas que exportar pode amenizar a situação”, diz Braga. 


Fonte: Automotive Business