Emplacamento
de carretas cai quase 50% no primeiro semestre de 2015.
Após
apurar queda de 40,3% nas vendas de implementos rodoviários no primeiro semestre deste ano em
relação ao mesmo período de 2014, com a soma de 45,9 mil unidades
comercializadas entre veículos rebocados e carrocerias montadas sobre chassis,
a associação dos fabricantes, a Anfir, estima que a atual retração deve se estender pelo
resto do ano, que segundo calcula a entidade fecha com cerca de 90 mil produtos
vendidos, o que representará forte declínio de 44% sobre os 12 meses
anteriores. “O resultado reflete a situação de desaquecimento geral da economia
e esperamos que sejam tomadas medidas para reanimar o mercado”, afirma Alcides
Braga, presidente da Anfir.
O resultado esperado para 2015 amplia significativamente a capacidade ociosa
das 1.355 empresas fabricantes de implementos rodoviários no País, que segundo
a Anfir têm potencial instalado para produzir mais de 200 mil unidades/ano e
chegaram ao recorde de 190,8 mil em 2011. Com a retração, Braga calcula que o
setor já demitiu mais de 20 mil pessoas, com redução de 30% na força de
trabalho, que baixou de 71 mil empregos diretos para menos de 50 mil hoje.
Nesse cenário, o presidente da Anfir defende a implantação do Programa de
Proteção ao Emprego (PPE) lançado pelo governo federal na semana passada, que
permitirá a redução de jornada de trabalho e salários por até um ano. O
dirigente entende que o setor deve ser incluído entre as empresas beneficiadas
pelo PPE. “Trata-se de uma medida que poderá contribuir para a preservação de
empregos e qualidade na indústria”, avalia.
MEDIDAS
Diante do tombo do mercado, Braga revela que a Anfir negocia em várias frentes
medidas que possam amenizar a recessão. “Precisamos agir, estamos buscando
qualquer alento”, diz. Um dos pedidos é “não deixar sair de pauta a adoção de
um programa de renovação de frota, que poderia trazer vendas também para o
setor de implementos”. No entanto, segundo o dirigente, o BNDES alega falta de
caixa para implantar o programa.
Com outro pleito, Braga conta que na próxima semana estará novamente na sede do
BNDES, no Rio de Janeiro, para mais uma vez pedir o aumento da parcela
financiável da linha PSI, atualmente restrita a 70% do valor do bem para
pequenas e médias empresas e 50% para as grandes. O pedido é para elevar o
porcentual a 80%, com poucas esperanças de aprovação.
Em outra modalidade de financiamento subsidiado, no próximo mês a Anfir deverá
assinar convênio com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para a
inclusão de implementos rodoviários na lista de bens financiáveis com juros de
2% ao ano pelo programa Mais Alimentos, destinado a pequenos agricultores com
renda de até R$ 100 mil por ano. “É um mercado novo a ser aberto. Enviamos ao
MDA uma lista de produtos que podem ser incluídos no programa.”
Apesar de todos os pedidos de crédito subsidiado, Braga admite que as linhas
oferecidas em anos recentes pelo BNDES com financiamento de 100% do bem com
juros de apenas 3% a 4% ao ano causaram distorções no mercado de caminhões e
implementos. “A coisa boa da situação atual é a volta das regras universais do
mercado. Foi muito artificial e oportunista o crescimento de 2013, as condições
eram tão atrativas que muitos frotistas compraram veículos novos mesmo sem
conseguir vender os usados. Essa oportunidade foi corretamente aproveitada
pelos empresários, mas tirou vendas dos anos seguintes. Agora chegou a hora de
pagar a conta”, pondera.
DESEMPENHO DOS SEGMENTOS
Em linha com a recessão do mercado de caminhões, que acumula declínio de 42%
nas vendas do primeiro semestre de 2015, o desempenho isolado do segmento de
implementos pesados foi ainda pior, registrando queda de 48,7%, com apenas 14,7
mil reboques e semirreboques emplacados no período. “É um retrocesso de 10
anos. Vamos emplacar este ano um dos menores volumes da história do setor,
perto de 29 mil unidades, o mesmo de 2006”, aponta Braga. Das 15 linhas de
veículos rebocados pesquisadas pela Anfir, 14 apresentaram retração e o tombo
mais representativo foi o de graneleiros/carga seca, com recuo de quase 60%,
pois é o produto mais vendido do setor, com 3,6 mil nos seis primeiros meses do
ano. O único porcentual positivo (+14,7%) foi registrado no emplacamento de
reboques para transporte de toras, com 731 unidades, mas a maioria foi
negociada em apenas um grande contrato pontual por uma transportadora do Nordeste.
No segmento leve a retração no primeiro semestre foi um pouco menor, de 35,4%,
o que representa 31,2 mil carrocerias montadas sobre chassis de janeiro a junho
de 2015. “Isso ocorre porque o segmento não é tão dependente (dos
financiamentos com juros subsidiados) do BNDES, assim o recuo nesse caso está
ligado somente à economia real”, avalia Braga. Ele aponta como exemplos as
quedas de 41% e 64,5% nas vendas de betoneiras e basculantes, respectivamente:
“Isso está diretamente ligado a paralisação de obras do PAC e recessão no setor
de construção civil.”
As exportações também não ajudam. No primeiro semestre apenas 1,1 mil
implementos foram embarcados para clientes de outros países, e apesar de baixo
o volume representa queda de 31,9% em relação ao mesmo intervalo de 2014. “Nos
últimos anos, com o aquecimento do mercado interno e perda de competitividade
internacional de nossos produtos, acabamos abandonado esse foco, mas agora o
cenário mudou e todas as empresas do setor estão convictas que exportar pode
amenizar a situação”, diz Braga.
Fonte:
Automotive Business