Carreteiros autônomos,
empregados e agregados lamentam que 2014 foi um ano muito ruim para o negócio
do transporte rodoviário de cargas. Problemas como a redução no volume de
cargas e aumento das despesas comprometeram o faturamento. (Texto Evilazio de Oliveira)
Ao fazer uma análise do que foi este ano de 2014 para o
carreteiro em termos de trabalho, rendimentos, despesas e até na
disponibilidade de cargas, a maioria dos profissionais da categoria classifica
o ano como péssimo em todos os aspectos. Entre as reclamações, predominam a
falta de cargas e os altos custos dos combustíveis e de manutenção do caminhão.
A queda nos rendimentos é geral, incluindo autônomos e motoristas que trabalham
com carteira assinada, mas que dependem de comissão sobre o número de viagens e
de quilômetros rodados para aumentar o faturamento. Nesse ambiente de desânimo,
resta a esperança de que no próximo ano as coisas sejam diferentes. Afinal,
"a esperança é última que morre", como dizem. Para o carreteiro
autônomo Rovani Chaves da Silva, 56 anos de idade e 30 de profissão, "o
ano foi razoável, apesar da absoluta falta de segurança nas estradas e do alto
custo dos combustíveis e manutenção do caminhão". Natural de Lages/SC e
trabalhando em madeireira desde os 13 anos, hoje é dono de um caminhão 2008
equipado com carreta. Mesmo aposentado continua no trecho para complementar a
renda e honrar seus compromissos. Diz que apesar da crise econômica, sempre tem
carga para ser transportada.
APESAR DA CRISE ECONÔMICA, SEMPRE
TEM CARGA PARA SER TRANSPORTADA. O PROBLEMA É O EXCESSO DE CAMINHÕES EM
CIRCULAÇÃO, COMENTA ROVANI CHAVES DA SILVA
"O problema é o excesso de
caminhões em circulação que acabam forçando o valor dos fretes para
baixo", reclama. Silva critica também o alto custo dos combustíveis e
lembra que em 1996, o que se pagava por um litro de gasolina dava para comprar
3,5 litros de óleo diesel, mas hoje os preços da gasolina e do óleo diesel
estão emparelhados. Ele reclama também da falta de segurança nas estradas e
lembra que foi assaltado no Pará, mas não sofreu nenhum tipo de agressão
física, a não ser o susto, porque os ladrões queriam só dinheiro.
A SITUAÇÃO FICOU MUITO FEIA ESTE ANO, O VOLUME
DE CARGAS E DE VIAGENS CAIU, AFIRMA ALTAIR GUZZON, QUE TRANSPORTA CARROS ZERO
QUILÔMETRO NA ROTA BRASIL-ARGENTINA
O cegonheiro Altair Guzzon natural
de São Marcos/RS, tem 46 anos de idade, 28 de volante e um caminhão ano 98, com
o qual trabalha como agregado no transporte de veículos entre Gravataí/RS,
Rosário/AR e São Paulo/SP. Diz que costumava levar automóveis dos modelos Ônix,
Prisma e Celta e na volta trazia Corsa sedan e Agile. Lembra que em 2013 o
volume de cargas e de viagens foi bom, sempre transportando carros nos dois
sentidos da viagem, mas este ano a situação ficou feia, pois caiu muito o
volume de cargas.
APÓS TRABALHAR SÓ POR COMISSÃO, OTÁVIO MOACIR
D'ÁVILA CONSEGUIU EMPREGO COM REGISTRO EM CARTEIRA E ESPERA QUE A SITUAÇÃO
CONTINUE MELHORANDO EM 2015
"Porém, as despesas aumentaram,
apesar dos homens do governo federal negarem que haja inflação, e os
rendimentos mal dão para se manter", lamenta. Guzzon ressalta que neste
ano fez 10 viagens entre a GM de Gravataí e a GM de Rosário, numa distância de
uns 1.300 quilômetros, voltando vazio por falta de carga de retorno. Enquanto
no ano passado não tinha tempo para ir para casa nem nos finais de semana, em
2014 chegou a permanecer entre oito e 10 dias parado e, consequentemente, sem
rendimentos e as despesas aumentando. Por isso, diz que não pode perder a
esperança de que em 2015 a situação vai mudar para melhor. "Afinal, alguma
coisa precisa ser feita, ou todos vão quebrar", enfatiza.
ATÉ O MÊS DE MAIO ESTAVA BOM PARA TRABALHAR,
MAS DEPOIS AS COISAS SE COMPLICARAM, A SITUAÇÃO CHEGOU AO LIMITE, DIZ O
AUTÔNOMO ADELMAR SCHMECHEL
Com apenas três anos no trecho e
viajando no transporte internacional, Otávio Moacir D'Ávila dos Santos, 32 anos
de idade, afirma que não pode se queixar do que foi para ele o ano de 2014.
Trabalhou como empregado de uma grande empresa e nunca teve problemas com salários
e eventuais falta de cargas. Transportava pneus de Buenos Aires/AR para São
Paulo/SP e vice-versa. E mesmo só ganhando comissão, sempre conseguiu um bom
rendimento mensal. Agora, no entanto, aceitou a oferta para viajar entre
Uruguaiana/RS e Chile, com carteira assinada e com a garantia de receber todos
os direitos trabalhistas, inclusive cumprindo os horários estabelecidos na Lei
do Motorista. Sente-se feliz a bordo de um caminhão baú fabricado em 2007.
Tenho grandes esperanças para o próximo ano, quando a situação deverá continuar
melhorando", conclui.
MOTORISTA EMPREGADO, NELCI NAISINGER DIZ QUE
SUA RECLAMAÇÃO É CONTRA O AUMENTO GENERALIZADO DOS PREÇOS, POIS SE GASTA CADA
VEZ MAIS NO SUPERMERCADO
O autônomo Adelmar Schmechel,
conhecido como Buda, é natural de Porto Xavier/RS, tem 54 anos de idade e 36 de
volante. É dono de um Volvo 2005 e depois de atuar muito tempo no transporte
internacional de cargas, nos últimos meses decidiu trabalhar apenas no Brasil.
"Pra onde tiver uma carga com frete bom eu vou, não tenho destino
certo", garante. Segundo ele, até maio estava bom para trabalhar, mas a
partir de junho as coisas se complicaram e a situação ficou terrível, no
limite. "Pouca carga e fretes muito baixos em decorrência do grande volume
de caminhões que estão no trecho. Além disso, as indústrias não estão
produzindo. A economia está quase parada", relata.
ROGÉRIO BRESSAN FERREIRA COMENTA QUE OS
MOTORISTAS EMPREGADOS PODEM PROCURAR ALTERNATIVAS, MAS AUTÔNOMOS NÃO TÊM
SUPORTE E ESTÃO QUEBRANDO
Schmechel tem outro caminhão, ano
2002, que está parado com problemas no motor. Por enquanto não pensa em
consertá-lo para evitar de fazer novas despesas ou até dívidas. Sem saber o que
vem pela frente, está apreensivo. Relata que são quatro caminhões na família,
já que os filhos também são estradeiros e todos estão no mesmo sufoco,
lamentando o ano de 2014, um dos piores dos últimos tempos, conclui. Quanto a
2015, afirma enfático: "Vai ser pior do que este, tenham certeza".
Nelci Naisinger, o Polaco, tem 48
anos de idade e 30 de estrada, é natural de Alegrete/RS e trabalha ao volante
de um Iveco 2001, equipado com carreta graneleira. Todos os dias ele levanta às
5h e viaja 130 quilômetros até Uruguaiana/RS para carregar casca de arroz. Faz
duas viagens por dia, "numa boa", e todas as noites está em casa com
a família. Em termos de trabalho, diz que o ano foi muito bom. A empresa é boa,
faz pagamentos em dia, o caminhão é bom. Está tudo em ordem. Sua única
reclamação fica por conta do aumento generalizado dos preços, principalmente da
alimentação. Cada vez se gasta mais no supermercado, afirma. "Se continuar
assim, não sei onde vamos parar".
"Com certeza, o ano de 2014 foi
o pior que já passei na estrada" afirma o carreteiro Rogério Bressan
Ferreira, 30 anos de idade e cinco anos de profissão.
Ele trabalha como empregado na linha
Uruguaiana-Chile-Uruguaiana. O caminhão é agregado a uma empresa grande e ele
não precisa se preocupar em procurar carga. Apenas recebe o aviso de onde e
quando carregar. Mesmo assim, este ano ficou muitos dias em casa, parado, à
disposição da empresa e sem carga para transportar. Tem carteira profissional
assinada e "tudo o que manda a Lei", mesmo assim tem visto seus
rendimentos diminuírem a cada mês, também por conta dos aumentos gerais dos
preços. Segundo afirma, além da redução no volume de cargas, a concorrência
também tem aumentado. Com isso, muitos motoristas estão procurando outras
alternativas profissionais, enquanto autônomos que não têm um "suporte
melhor" estão quebrando, ressalta. O futuro? "O futuro a Deus
pertence".
Fonte: O Carreteiro