Resultados ruins do primeiro trimestre vão afetar o setor em
2014.
No primeiro trimestre de 2014, as vendas de caminhões recuaram 11% ante igual período do ano
passado. O vilão nesse processo, segundo os convidados do painel “Pesos-Pesados
- Crescimento com Concorrência Extra”, foi a demora na adequação das condições
do Finame PSI,
que travou os negócios.
No entanto, a expectativa dos principais fabricantes de caminhões é uma reviravolta, que já estaria ocorrendo em abril. Durante o V Fórum da Indústria Automobilística, realizado na segunda-feira, 28, por Automotive Business, no Golden Hall do WTC, em São Paulo, Iveco, Mercedes-Benz, Ford, Volvo, Scania e MAN divergiram no tamanho do mercado em 2014, mas foram unânimes ao destacar o desempenho que sinaliza recuperação nas vendas a partir de abril.
“O Finame simplificado trouxe nova cadência na aprovação dos negócios em abril, o que sinaliza uma retomada do mercado este mês”, afirmou Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America.
Diante da evolução das vendas, as projeções para o ano variaram bastante, refletindo otimismo um tanto reservado, pois com Copa do Mundo e eleições no calendário, tudo poderá acontecer até dezembro. A Mercedes-Benz está alinhada com a consultoria Carcon Automotive, que durante o painel apresentou a perspectiva de 140 mil caminhões negociados em 2014.
“O início do ano prejudicou o desempenho de vendas. Mas agora, com a redução de 15 a 20 dias para aprovação do Finame simplificado, os negócios já retomaram o ritmo do ano passado. Assim, acredito em 140 mil unidades negociadas até o fim do ano”, calcula Gilson Mansur, diretor de vendas em marketing de caminhões da Mercedes-Benz.
O calendário de 2014 influencia a projeção do diretor comercial da Iveco América Latina , Alcides Cavalcanti: “É um ano de incertezas na política e economia que vai influenciar no desempenho do setor. Esperamos um mercado de 142 mil a 145 mil unidades em 2014.”
Para a Ford, apesar do primeiro trimestre com queda nas vendas, o mercado vai registrar recuperação que irá equiparar o volume a 2013: “Prefiro manter o otimismo. E a sinalização de recuperação das vendas em abril mostra um mercado de 145 mil a 150 mil unidades este ano”, pondera Guy Rodriguez, diretor de operações da Ford Caminhões.
Já Scania e Volvo, que cresceram bastante em 2013 por causa do aquecimento das vendas de extrapesados trazido pela safra recorde de grãos, mantêm o foco no segmento e acreditam que, mesmo com queda nos negócios, o mercado continuará atraente. Para Bernardo Fedalto, diretor de vendas da Volvo, há um ambiente de negócios interessante no Brasil, mesmo com um possível encolhimento do mercado em 2014: “O ano começou mais imprevisível do que imaginávamos. Por isso esperamos uma queda de 12% nos segmentos de pesados e extrapesados. É uma queda significativa, porém trata-se de um mercado razoável para todos os competidores.”
Na Scania, Eronildo Santos, diretor de vendas, afirma que o foco é a manutenção dos resultados: “Viemos de uma situação positiva em 2013, com a liderança e 32% de share nos extrapesados e uma participação histórica nos semipesados. Trabalhamos para manter esses números, por isso acreditamos numa retração de 5% no mercado total em 2014.”
GARGALOS, ENTRAVES E OPORTUNIDADES
No cafezinho, momento de mais descontração após o painel, os executivos fizeram coro ao apontar o que pode ser o principal gargalo do segmento de caminhões no Brasil: na ponta da cadeia, a falta de motoristas e de mecânicos pode travar o mercado, pois caminhão não se movimenta sozinho, tampouco se autoconserta.
“Estamos preocupados com a baixa oferta de motoristas, pois são eles que utilizam nossos produtos. Sem mão de obra não teremos vendas de novos caminhões”, explica Gilson Mansur, da Mercedes-Benz. “Na rede falta mecânico especializado, o que prejudica a programação de manutenção dos nossos clientes. E no mercado, a escassez de motoristas preocupa não só os transportadores, mas também os fabricantes. Temos de discutir mais esse assunto”, afirma Eronildo Santos, da Scania.
Outro fator de preocupação é o volume de carga transportada, “que não acompanha o desempenho registrado em 2013”, segundo Alcides Cavalvanti, da Iveco. “O volume de carga transportada ainda é baixo este ano. Esperamos uma recuperação desses negócios, como está ocorrendo com as vendas em abril”, sinaliza Ricardo Alouche, da MAN.
Por outro lado, a redução dos negócios no primeiro trimestre e o consequente aumento do estoque tanto na fabricante quanto na rede de vendas não alterou, por enquanto, as estratégias de produção para este ano. Os seis representantes das empresas chegaram novamente a conclusões semelhantes durante o painel.
Não há plano de reduzir o efetivo no chão de fábrica. Pelo menos, por enquanto. “Vamos crescer a participação, independentemente do resultado do mercado, com novos produtos. Portanto, não há razão para pensar em redução da produção”, afirma Guy Rodriguez, da Ford.
“Adequamos nossa produção à demanda. Por isso, um estoque de 40 dias da indústria é razoável, já que o normal é um volume de 30 a 60 dias”, explica Ricardo Alouche, da MAN. Um ponto destacado durante o painel foi a chegada de novos fabricantes de caminhões ao Brasil.
“É uma realidade para todos os mercados, porém até agora nenhum desses novos players mostrou a cara. Mas já fizeram bastante barulho”, brincou Gilson Mansur, que também aproveitou para reafirmar a importância da elevada competição no segmento de caminhões: “Faz com que tenhamos de correr ainda mais atrás dos nossos clientes e procurar sempre oferecer o melhor produto, o melhor negócio.”
No que se refere às oportunidades, a renovação de frota voltou com força. Mas continua faltando sinalização convincente do governo de que haverá algum mecanismo de apoio à renovação. “O problema da renovação é do profissional autônomo, que não encontra crédito para trocar de caminhão. Um fundo garantidor bancado pelo governo pode ser uma alternativa para esse profissional”, resume Mansur, da Mercedes-Benz.
Atualmente, a idade média da frota de caminhões no Brasil é de nove anos e dois meses, de acordo com dados da Anfir, Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários.
Fonte: Automotive Business